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A criação do Grupo de Pesquisa Cognição & Práticas Discursivas (C&PD) foi motivada pelo desejo dos professores Paulo Henrique Duque e Marcos Antonio Costa, da UFRN, de discutir, analisar e organizar as ideias oriundas de diversas abordagens que, marcadamente a partir da década de 1970, se apresentam sob a denominação de Linguística Cognitiva. Anterior à criação oficial do Grupo, os dois professores já desenvolviam projetos individuais (e também com um número representativo de alunos) com o objetivo maior de evidenciar um quadro teórico-metodológico para os linguística| estudos da linguagem compatível com modelos de armazenamento e categorização de corporalidade|experiências.


Buscando-se descrever e explicar as mútuas relações entre a linguagem e outras faculdades cognitivas, assim como o papel que a experiência intersubjetiva situada em diferentes contextos socioculturais desempenha na arquitetura dessa relação, tornou-se imprescindível o diálogo com diversas áreas do conhecimento, tais como a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia, as Ciências da Computação e as Neurociências. A construção desse diálogo transdisciplinar – atestado nos projetos desenvolvidos pelos participantes do C&PD e, mais particularmente, na diversificada natureza dos corpora escolhidos como material de análise – sempre exigiu do Grupo uma preocupação adicional: embora recorrendo às discussões que são centrais em outras áreas e considerando dados recolhidos de contextos que vão da produção literária à fala de pacientes diagnosticados com esquizofrenia, não se podia perder de vista o foco norteador das pesquisas que sempre foi e continuará sendo a consideração dos sistemas linguísticos no âmbito das atividades de categorização. Em outros termos, a questão central que interessa ao Grupo diz respeito às atividades de construção de sentido que são evidenciadas pela gramática da língua e que atestam, continuamente, a maneira como criamos e recriamos nosso entorno sociocultural. O funcionamento da linguagem, por conseguinte, deve ser pensado, prioritariamente, a partir dos processos criativos que nos permitem organizar e dar forma às nossas experiências.


Considerando esse enfoque experiencialista, as atividades cognitivas e as experiências vivenciadas a partir do corpo não podem ser tomadas como independentes, uma vez que o começo de toda a atividade cognitiva ocorre com a experiência humana ao lidar com o ambiente à sua volta. Assim sendo, os processos cognitivos não devem ser tomados às margens das rotinas significativas da vida em sociedade. Pensar e fazer são atividades intimamente relacionadas, uma vez que nossas múltiplas experiências afetam-nos cognoscitivamente. A epistemologia da corporalidade permitiu aos pesquisadores do C&PD avançar na investigação do papel de fatores socioculturais na organização, estruturação e funcionamento dos sistemas conceptuais.


Coerentemente com esse quadro teórico-epistemológico, a gramática – uma rede de construções concebida como um sistema de organização conceptual e objeto último das investigações realizadas pelos pesquisadores do C&PD – é investigada concomitantemente às atividades de categorização, aos processos imagéticos e aos domínios cognitivos e culturais. Portanto, a gramática, assim concebida, não pode ser tomada como mecanicamente resultante da “internalização” de experiências que se realizariam em um mundo “externo”, ou da “exteriorização” de um sistema fechado ou de faculdades lógicas e universais que residiriam, em última instância, numa mente isolada e individual. Não se trata de estabelecer relações de causa e efeito entre processos cognitivos e propriedades linguísticas, uma vez que as expressões linguísticas não retratam diretamente os objetos, eventos e situações concretos ou imaginários. No lugar desses determinismos unilaterais, tornam-se prioridades as complexas redes de conhecimento que se organizam e que se estabilizam, embora provisoriamente, na forma de modelos mentais que são, simultaneamente, modelos socioculturais evocados pelos sujeitos durante situações concretas de uso da língua.


Articulados ao Grupo, alguns projetos de pesquisa são desenvolvidos por alunos do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL) no Departamento de Letras da UFRN. Outros projetos são frequentemente apresentados/sugeridos por alunos de diferentes cursos de graduação. Com a entusiasta e imprescindível colaboração desses alunos, foi possível a criação deste site, de um blog e também a produção de um livro (Linguística Cognitiva: em busca de uma arquitetura de linguagem compatível com modelos de armazenamento e categorização de experiências), que hoje se encontra na Editora da UFRN. O alvo permanece: a consolidação das bases de uma teoria linguística em consonância com atividades cognitivas e as experiências de corpos situados em ambientes socioculturais.

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